Segundo artigo do Instituto Nacional do Câncer – INCA, publicado em seu site em 05/11/2018, o ambiente de trabalho é um meio onde ocorrem as maiores concentrações de agentes cancerígenos, quando comparado a outros ambientes. Já está comprovado cientificamente que a exposição a agentes químicos, físicos e biológicos utilizados em ambientes de trabalho e seu entorno causa diversos cânceres. Ainda no mesmo artigo é especificado que apesar de existirem evidências científicas que demonstrem que exposições no trabalho podem causar câncer, o número de notificações ainda é pequeno. Estimativas mostram que 10,8% dos casos de cânceres em homens e 2,2% em mulheres surgem em função de fatores relacionados ao local de trabalho.
Esses aspectos corroboram a fala de Berenice I. F. Goelzer em seu artigo, a Associação Brasileira de Higiene Ocupacional – ABHO, onde é afirmado que além do câncer, doenças como asma, dermatose, antracnose pulmonar e perda auditiva e câncer e podem ter origem ocupacional e constituir “epidemias silenciosas” que incapacitam e matam trabalhadores, a cada dia, em todo o mundo.
Essas afirmações só reiteram a importância da Higiene Ocupacional desde a sua fase de antecipação à a análise dos indicadores biológicos.
De acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), a cada ano, infortúnios ocupacionais matam mais de 2,3 milhões de pessoas; quanto às doenças ocupacionais, ocorrem perto de 160 milhões de novos casos. Entretanto, a atenção que recebem, por exemplo, de agências internacionais e nacionais, de governos e da mídia, de empresários e de trabalhadores, não está de acordo com sua magnitude e impacto humano, social e econômico.
Ainda segundo Goelzer, muitas vezes de maneira insidiosa e sem que o nexo causal seja estabelecido, por razões que incluem falta de atendimento médico, diagnósticos incorretos e, em alguns casos, períodos de latência muito longos. Além disso ela ainda afirma que as doenças ocupacionais, muito menos visíveis que os acidentes do trabalho, são significativamente subestimadas; a Organização Panamericana de Saúde/Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS) estima que, na América Latina, os casos notificados de doenças ocupacionais representam, no máximo, 5% daqueles que realmente ocorrem. Existem estratégias e técnicas preventivas que poderiam evitar grande parte dessas “doenças negligenciadas”. Porém, sua aplicação depende da vontade política de muitos tomadores de decisão, inclusive em nível de governo, de empresa e dos trabalhadores – o que nem sempre existe, veja-se o exemplo da silicose, doença perfeitamente prevenível, que continua matando em nossos dias, apesar de conhecida desde a antiguidade.
Danos silenciosos e logos períodos de exposição são responsáveis pela negligência de empregadores, empregados, governo e até profissionais de segurança do trabalho. Muitos profissionais do Serviço Especializado em Segurança e Medicina do Trabalho – SESMT estão tão preocupados com os riscos de trabalho em altura, espaço confinado, eletricidade e uso de máquinas e equipamentos que deixam passar despercebidos os níveis de ruído, vibração, poeira e vapores orgânicos que não sejam percebidos de a “olhos vistos”.
Grande parte das empresas, principalmente as pequenas e médias não apresentam um Programa de Prevenção Ambiental consistente. Não existe a fase de antecipação, a fase de reconhecimento normalmente é falha e pobre em detalhes, a fase de avaliação é limitada e sem estratégia adequada, o monitoramento é ineficiente e as medidas de controle sem embasamento técnico sólido são reflexo de total falta de coerência e gestão dos processos. Além disso são negligenciados o Programa de Conservação Auditiva – PCA e o Programa de Proteção Respiratória – PPR programas essenciais para melhores resultados nos controles dos agentes ruído e químicos.
Outro fator a ser considerado também é até agora, não existirem diretrizes oficiais quanto à formação de profissionais a atuarem em Higiene Ocupacional. A figura do higienista ocupacional como profissional qualificado atuar nessa área, a partir da adoção de uma diretriz adequadas e apoio dos órgãos competentes é fundamental para garantir que esse trabalho seja realizado apenas por profissionais qualificados. A Higiene Ocupacional – HO, como ciência praticada profissionalmente foi reconhecida oficialmente no Brasil, em agosto de 2014, graças à sua inclusão na Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), porém não existe uma obrigação legal que trabalhos relacionados a HO sejam realizados por Higienista Ocupacional.
Por fim é importante salientar que a atenção na Higiene Ocupacional proporciona um ambiente mais saudável e seguro aos trabalhadores, porque suas fases de antecipação, reconhecimento, avaliação, monitoramento e controle são fundamentais para garantir a eliminação ou neutralização dos agentes nocivos o que contribui significativamente no impacto social haja vista que como o demostrado as doenças ocupacionais além de inchar o sistema de saúde, prejudicam o sistema previdenciário e trazem mazelas as famílias dos trabalhadores acometidos.