Em um mundo onde inovação se tornou a palavra da moda, olhar além das normas exigidas pelo Ministério do Trabalho (MTE) pode agregar e muito na qualidade das luvas de proteção ofertadas. Quem conhece essas normas e os ensaios que elas trazem sabe que existe certo “abismo” entre a realidade das tarefas e as condições exigidas nos ensaios. Outras normas, detalhes observáveis e a adoção de determinadas práticas podem trazer benefícios tanto nas questões internas de qualidade tanto em um diferencial nas prateleiras de venda.
Podemos identificar um potencial ainda pouco explorado pelas empresas de luvas de proteção. A própria norma fundamental para uma luva ser considerada de proteção, a EN 420, traz um ponto quase que esquecido pelos fabricantes: os ensaios de permeabilidade e absorção. Esses dão a ideia da passagem de vapor d’água, e consequentemente da taxa de transpiração da luva. Contudo, esses ensaios não são itens obrigatórios, e muitas empresas preferem obter seus CAs sem os mesmos. Observemos uma situação cotidiana de nossos verões e regiões de clima quente: a poda de árvores. Para aqueles que executam esse tipo de serviço, será que a frase impressa na embalagem: “alta taxa de transpiração, mantendo as mãos secas até o final do serviço”, surtiria um efeito positivo? Afinal nada mais incomodo e agonizante do que sentir as mãos suadas dentro de uma luva.
A marcação bem feita não é apenas uma questão de norma
Diferentes ensaios além dos trazidos pelas normas obrigatórias podem ser grandes aliados dos fabricantes de luvas. Tomando como exemplo a questão das marcações que devem estar contidas nas luvas que atendem aos requisitos da Portaria Nº 332 (Luvas Cirúrgicas e de Procedimentos Não Cirúrgicos), estas não podem ser apresentadas em etiquetas. A única solução é a realização da marcação na própria luva, contudo, inúmeras questões de contaminação podem surgir, por exemplo, essa marcação esfarelar durante o uso em uma indústria alimentícia. Ensaios de fixação de marcações usando um equipamento chamado Veslic podem atestar a qualidade e ser usado como aquele “algo a mais” na mesa de negociações na hora de vender a luva.
Outra questão de durabilidade que está além das exigências normativas, mas refletem na qualidade dos produtos de uma marca é o acabamento polimérico. Ao se desenvolver uma luva, além de atender os requisitos, pensar no uso prático é fundamental. Mensurar a resistência do acabamentoas suscetíveis aberturas e fechamentos da mão do usuário pode trazer maior durabilidade e longevidade ao produto. Nenhum usuário gostaria de ter uma luva com um acabamento que na utilização prática se desprende ou se torna quebradiço.
Por fim, após se escolher materiais de alta qualidade e durabilidade, é importante salientar questões relacionadas à produção da luva, luvas resistentes a produtos químicos, mesmo com materiais de alta qualidade, podem ter sua proteção totalmente invalidada se apresentar costuras em locais que permitam a passagem de agentes perigosos.
As normas sim são fundamentais e a exigência delas pelo MTE só deixa os produtos comercializados em território nacional mais seguros, mas olhar além delas pode proporcionar a oxigenação de novas ideias e avanços tecnológicos, tanto para as empresas, quanto para os usuários.
Marcos Braga de Oliveira
Técnico Químico da divisão de EPIs – Luvas e Vestimentas do IBTeC